165 visitas - Fonte: O Globo
BRASÍLIA — Em depoimento prestado ao Ministério Público
Federal, o gerente da empresa fornecedora de oxigênio para o governo do
Amazonas, Christiano Cruz, relatou que a White Martins só conseguiu se reunir
com integrantes do Ministério da Saúde para relatar pessoalmente o grave
problema na disponibilidade de oxigênio no Amazonas às vésperas do colapso.
A equipe do ministro Eduardo Pazuello havia recebido um
ofício da empresa no dia 8 de janeiro alertando sobre a insuficiência dos
estoques de oxigênio, mas só se reuniu com a White Martins no dia 11. Três dias
depois, a rede entrou em colapso, e pacientes passaram a morrer por falta de
oxigênio.
O relato reforça as suspeitas da Procuradoria-Geral da República (PGR) de que o
Ministério da Saúde demorou para tomar ações concretas buscando evitar o
colapso no Amazonas. Cruz afirma que fez sucessivos alertas à Secretaria de
Saúde desde o início de janeiro sobre a incapacidade de suprir o crescente
consumo de oxigênio pelos pacientes de Covid-19. Representantes do ministério
já estavam em Manaus desde o início do ano, mas não houve contato com a White
Martins.
— Do Ministério da Saúde, nesse primeiro momento, não
havia ninguém. Só havia as pessoas relacionadas à Secretaria de Saúde do
Estado. O primeiro contato que eu tive com o Ministério da Saúde foi numa
reunião, que foi agendada por intermédio da Secretaria de Saúde do Estado do
Amazonas, é que a gente teve contato com o ministro Pazuello e acredito que com
o assessor dele, o senhor Airton Cascavel. Isso foi no dia 11 de janeiro —
narrou em seu depoimento.
Gerente de desenvolvimento de negócios medicinais da White Martins, Cruz foi
ouvido na condição de testemunha em depoimento ao MPF do Amazonas no inquérito
civil público que investiga as responsabilidades sobre o colapso na rede de
saúde do Estado em janeiro. O GLOBO teve acesso ao vídeo do depoimento.
Conversa ’muito curta’ com Pazuello
De acordo com o depoimento, a conversa com Pazuello foi "muito curta" e serviu apenas para Pazuello encaminhar o assunto ao coronel Nivaldo Moura Filho, responsável por cuidar da logística dos voos da Força Aérea Brasileira que levariam cilindros de oxigênio para reforçar o estoque no Estado.
— A reunião foi pra falar de oxigênio, das dificuldades de logística, do incremento do consumo e da necessidade de apoio do ministério pra White Martins e Estado do Amazonas. E ficou claro pra eles do aumento do consumo, dos desafios que a gente teria pra frente. Imediatamente o Airton Cascavel (assessor do ministro), junto com o Pazuello, chamaram (sic) o coronel Moura Filho, que não estava participando da reunião, mas estava presente na residência, ele nos apresentou e pediu para que desse o suporte necessário para que a operação acontecesse. Pra que a ajuda que a gente tava pedindo fosse feita. Por isso que eu digo, a partir desse momento, dentro dessa própria reunião, é que eu conheci e comecei a ter interface com alguém do Ministério da Saúde pra tratar da questão de logística. Agora, por que eles só estavam tratando comigo naquele momento, isso não fez parte da conversa — relatou Christiano Cruz, gerente de Desenvolvimento de Negócios Medicinais da White Martins.
Em seu relato, Christiano Cruz retrata um cenário de caos das autoridades de Saúde do Amazonas e diz que não foi traçado um planejamento sobre o crescimento da demanda de oxigênio, o que trouxe dificuldades para que a empresa pudesse calcular qual seria o reforço necessário. No dia 7 de janeiro, a White Martins enviou um ofício à Secretaria de Saúde, que também foi repassado ao ministério, recomendando que fossem contatados mais fornecedores porque a empresa não daria conta de suprir toda a demanda. Esse mesmo ofício foi encaminhado no dia 8 para o ministério.
Tudo isso foi repetido pessoalmente a Pazuello no
encontro do dia 11, segundo Christiano. Quem deu o alerta teria sido Petrônio
Bastos, outro funcionário da White Martins que participou do encontro.
— Se continuasse do jeito que estava, independente do incremento, e sem ajuda,
a gente não teria condições de fornecer. Eu não lembro se foi falado pelo
Petrônio com a palavra ’colapso’, mas a partir do momento que a gente diz que
"do jeito que tá, se você não me ajudar, eu não consigo fornecer", isso
pra mim significa a mesma coisa. (...) Então a gente falou de forma clara que
precisava de ajuda, se não não teria capacidade de fornecer — narrou ao
Ministério Público Federal. https://www.plantaobrasil.net/news.asp?nID=113669&po=s